28/12/10

Notícia da Queda de um Meteorito em 1799

Capa da publicação original de 1799
A propósito de uma curiosidade histórica, permitam-ne partilhar um excerto de um livro  de 1799 intitulado Letters Written During a Short Residence in Spain and Portugal  (Cartas Escritas durante uma Curta Residência em Espanha e Portugal), pertencente ao autor Robert Southey e que relata um situação curiosa que nos fornece simultaneamente dados acerca de alguns indivíduos do meio freixense dos finais do século XVIII. Passo, portanto, a transcrever ipsis verbis como consta na página 239 do referido livro, limitando-me no entanto a copiar apenas o relato em português que, no original, se encontra traduzido igualmente em inglês, a língua materna do autor.

Letter XVIII

A phaenomenon has occured here within this/ few days wich we sometimes find mentioned/ in history and always disbelieve. I shall make/ no coment on the account but give you an/ authentic copy of the deposition of the witnesses/ before a magistrate.

Elias António, Juiz Ordinário do Termo de/ Evora Monte e Morador na Freguezia de Freixo, 
na Herdade dos Gayos, - dice

Que no dia 19 de Fevereiro [de 1799] entre huma para as/ duas da tarde, ouvira doas estallos, semel-/ hantes aos da expulsaon das minas, depois que/ sentira um grande estrondo ou rugido,/ que durava perto de dous minutos, e que obser-/vando o horizonte não vira escuridão, nuvem,/ ou vestígio por onde inferisse a causa da quelle/ aconticimento. Porem tinha reconhecido que/ o dito rugido currio de Norte para Nascente, estando o dia claro e sereno.

Gregorio Calado, lavrador na Herdade do Pazo,/ termo do Redondo, dice, sentia o estrondo/ referido, e que passando um pequeno espaço/ de tempo, um criado seu, chamado Joze Fialho,/ lhe apresentara uma pedra de cor de chumbo,/ que pesava, 10 arrateis, scudo a sua figura irre-/ gular. Cuja pedra foi conduzida pelo dito Joze/ Fialho, que se achava em huma folha da dita/ herdade denomina Tasquinha no termo de/ Evoramonte, para ter  observado que depois/ dos estallos e estrondos, tinha cahido perto dele,/ hum corpo grave, e inda procurar achava a dita/ pedra, cravada na terra ainda morna, e a terra/, movido de fresco. O mesmo afirmarão mais/ quatro mozos que estavam na quelles con-/tornos.

Além de ser uma notícia de grande curiosidade e riqueza, pela sua raridade de ocorrência nas fontes convencionais, transmite-nos dados indirectos para a encenação de um espectro limitado para a definição da sociedade da nossa terra em finais de século XVIII. Aparecem-nos referências a 3 pessoas: Elias António, Juiz Ordinário de Évoramonte (que na altura era concelho e ao qual a freguesia do Freixo pertencia), morador na Herdade dos Gaios; Gregório Calado, Lavrador na Herdade do Paço, termo de Redondo (ainda que mais próxima do Freixo); José Fialho, criado de Gregório Calado. Através destes dados podemos tirar algumas ilações históricas, ainda que muito vagas.
A primeira é que se tratam efectivamente de figuras de diferentes estratos sociais, sendo um deles magistrado, outro um lavrador e, por fim, um criado. Tal permite-nos visualizar que a sociedade do Freixo de finais  do século XVIII tem um carácter pluralista no que respeita a estatutos sociais, não se limitanto apenas à existência redutora da mais típica "nobreza rural" e proprietários. A este respeito é particularmente notório o facto da moradia do Juiz do Concelho ser na freguesia do Freixo. 
Da mesma maneira, neste documento vem confirmado o facto de que me tenho vindo a aperceber, relacionado com a importância da Herdade dos Gaios e a sua relação directa com a elite culturalmente instruída da época. De facto, existem registos de em meados do século XVIII a referida herdade  pertencer à família de um presbítero do Freixo que assinava como "Padre Doutor" (cujo nome de momento não me ocorre, perdoem-me) mas que seria interessante procurar a confirmação da sua previsível relação familiar com o juiz, cuja geração não irá além da primeira depois do padre que, se não estou em erro, morrerá já na segunda metade de 1700.
Como se pode ver, esta publicação que posto, trata-se apenas de uma nota sumária, de um pequeno contributo para a junção do grande arsenal de peças dispersas que constituem a história do Freixo. No entanto, estou ciente que é desta maneira muito gradual e por vezes pouco progressiva que o processo historiográfico se constitui, particularmente no caso do Freixo, que por vicissitudes das várias épocas as suas páginas se encontram olvidadas por entre os volumes inertes e obscuros de muitos arquivos... 

23/12/10

Feliz Natal e Próspero Ano Novo

Queridos amigos, chegada a altura em que todos temos uma palavra de votos a dar uns aos outros, o Fraxinus não poderia deixar de desejar a todos um santo Natal e um ano novo abundante de graças!
Aproveitando, também o tempo habitualmente conotado com a paz e a concórdia, quero dar relevo a esses valores tão importantes e desejar que brilhem dentro de nós e que os possamos reflectir como a estrela do Presépio ou da árvore do Natal. A todos vocês, caros leitores, e às vossas famílias e amigos, Boas Festas!

Com um abraço fraterno, 
Fraxinus Excelsior

24/03/10

Será falta de liberdade?

Num dos comentários que alguém fez à mensagem dos compadres, vinha a alusão ao facto de neste blog não haver liberdade de expressão, porque as mensagens estão sujeitas à minha aprovação antes de serem publicadas.
Em primeiro lugar, devo dizer que enquanto republicano democrata e antifaxista que me assumo, sou totalmente a favor da liberdade da liberdade de expressão e condeno todos os mecanismos que impeçam as pessoas de se exprimirem, consoante o seu pensar. Não admito, portanto, que se façam insinuações desse género a meu respeito.
Em segundo lugar, penso que devemos pensar muito bem no que vamos dizer antes de o fazermos. De facto, em Portugal temos liberdade de expressão, assim como o temos plenamente neste blog. É um dos direitos inalienáveis da condição humana e uma das grandes vantagens de um sistema democrático. Agora, quando reclamamos liberdade de expressão é porque nos queremos verdadeiramente exprimir. Ao nos querermos exprimir estamos a consumar o facto de expor ideias pessoais, ideias próprias sobre determinados assuntos. Onde eu quero chegar com isto é: se se tratam de ideias pessoais QUE QUEREMOS EXPRIMIR, temos que nos assumir e não viver cobardemente refugiados no anonimato. Além disso, parece-me que a liberdade de expressão nos obriga a pensar, pois se nos expressamos enquanto nós próprios é o nosso nome que tem de estar adjacente e é ele que se responsabilizará pelo que sair da nossa boca. É assim que funcionam os sistemas onde há liberdade de expressão. 
Quanto ao facto dos comentários serem vistos por mim antes de serem publicados, parece-me uma medida extremamente proteccionista. Se visse os comentários que já tenho recebido, que além de a nada se referirem ao conteúdo das mensagens, servem apenas para libertar expressões em calão, garanto-lhe que se os tivesse publicado não seria este blog o ofendido.
Por ourtro lado, pense assim: imagine que postam aqui comentários ilegais relacionados com pornografia infantil e assuntos do género. Esses items são punidos perante a lei e aí, quem seria punido era eu, enquanto administrador...não me agrada.
Seja como for, por acreditar que um sistema só é democrático, verdadeirtamente, se nele houver premissão para se discutir sobre as questões relativas à existência, ou não, da liberdade de expressão, propronho que participem na sondagem ao lado, para que se possa ter uma noção do sentimento que os leitores e participantes têm à cerca da forma como a liberdade de expressão está presente no blog.

Saudações!

Fraxinus Excelsior 

Votos de uma Boa Páscoa

O blog Fraxinus Excelsior deseja a todos os seus leitores e seguidores uma feliz e espiritual Páscoa

14/03/10

A Quaresma nas Tradições Freixenses

Caros freixenses e amigos,

Creio que ao avizinhar-se mais uma Páscoa, o momento apoteótico da fé cristã, é bom termos presentes algumas ideias, que no fundo estão enraizadas sob modelos tradicionais no povo freixense mas que hoje-em- dia estão a entrar em dezuso e, portanto, parece-me ser a forma e o momento oportunos de as lembrar.
Na verdade ainda não estamos no tempo designado pela Igreja como Tempo Pascal, pois como todos sabem estamos na Quaresma, aquele período que antecede a Páscoa em quarenta dias, e que teve início na Quarta-Feira de Cinzas, comummente lembrada com o comer de fradinhos de azeite e vinagre. De facto por muito estranho que pareça a alguns, o significado desta refeição é dotado de grande simbolismo religioso. Os fradinhos são uma refeição pobre, com ausência de carne e que simboliza o fim do Entrudo - tempo de festa - e o início da Quaresma, um tempo de recolhimento sem divertimentos, um tempo essencialmente de meditação e renúncia aos bens materiais. 
Com isto quero lembrar um pouco o cariz etnográfico deste período. De facto, se perguntarmos aos mais antigos, eles dirão que no seu tempo não eram permitidos bailes até à Páscoa, com excepção do Baile da Pinha, que era excepcionalmente realizado quinze dias antes da Páscoa. Outra das características do tempo quaresmal e seguida à risca por eles era o jejum de carne às quartas e às sextas. Havia uma forma de redenção diferente, embora não tivesse generalizada, em parte por razões económicas, que era de pagar a bula. A bula era uma espécie de imposto cobrado pela Igreja, dando uma autorização confirmada por um eclesiástico, que confirmava o direito do seu pagador ao consumo de carne. A realidade é que, não recorrendo geralmente a este meio, a maioria das pessoas "optava" pelo jejum de carne às quartas e sextas em memória da paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em suma, só se voltava a comer carne "à séria" na segunda feira de Páscoa com o célebre borrego anteriormente degolado, na Sexta-Feira Santa.
Hoje os tempos mudaram e consigo também os hábitos. A Igreja já só impõe o jejum a quem o possa fazer, estando os doentes e os que praticam trabalhos de grande esforço físico isentos da norma. Com esta mensagem não pretendo incitar à prática do jejum (não obstante os benifícios que traz à saúde, já provados cieníficamente), mas antes fazer uma memória muitíssimo breve de uma das tradições mais marcadas do mundo católico e, no caso particular, da nossa terra.

Saudações e bom jejum!     

10/02/10

"Compadres 2010" : um modelo a não seguir!

Pois é, há cerca de um ano por esta altura postei uma mensagem a criticar as comadres por terem ido festejar o seu dia ao Redondo.
A mensagem levantou grande polémica, uma vez que uma série de compadres assentiram a minha mensagem, levando inclusivamente à troca de insultos entre os dois grupos, facto que me induziu a tirar a mensagem, naturalmente, em nome de um bom ambiente, ainda que virtual.
Passado um ano, tenho o sentimento de que tive um "déjà vue". Então não é que os preconizadores de uma onda de relutância tão acentuada face a atitude das senhoras, passado um ano fazem exactamente o mesmo, cortando a tradição que ia ficando cada vez mais sólida, de se reunirem na Casa do Povo, nesse dia?!
Como podemos ver, muitas vezes devemos morder a língua quando contestamos as atitudes dos outros, ou se não o fazemos, no mínimo devemos obrigar a nossa conduta a servir de exemplo para as situações de que discordamos. Se assim não for, creio que estamos a cair na hipocrisia exacerbada. Compadres, tenham vergonha!
Perdoem-me a expressão num tom demasiado coloquial mas, como dizem os antigos:

Corvo e Gralha é tudo a mesma canalha!

E desta vez, garanto, não retirarei a mensagem, sejam quais forem os comentários!

05/02/10

Gastronomia "à Antiga Alentejana"

Uma das mensagens que consta na lista deste blog intitula-se "O Freixo e os Petiscos" e nela é exaltado quão amantes os freixenses são dos prazeres gastronómicos. De facto temos razões para isso. A nossa cozinha é apurada, sejam os cozinheiros homens, ou mulheres. 
Para além da apreciação que nutrimos pela comida, a verdade é que também temos receitas próprias da nossa terra, isto é, são vulgares por todo o alentejo mas têm retoques peculiares que não lhes é dado na gíria da culinária. Lembro-me assim, das famosas Sopa Azeda e Sopa Turca, assim como do raro Feijão com Poejos e Bacalhau, passando pela doce Tiborna, ou até mesmo das sobremesas mais desenjoadas, como as Papas de Farinha. 
Embora não nos pareça, pois estamos habituados a conviver frequentemente com esses acepipes, são pratos dotados de um sabor e aroma únicos e mercem, por nossa parte, alguma atenção visto se restringirem, muitos deles, aos livros de receitas dos cozinheiros - e principalmente cozinheiras - mais antigos.
O que proponho é que se faça uma amostra destes pratos, convenientemente divulgada, de forma a mostrarmos uma das muito boas coisas que temos: a culinária. 
Uma vez que o assunto das caminhadas se encontra paralizado - espero eu, por causa do mau tempo - seria proveitoso arranjarmos soluções atractivas "à lareira", bebendo um bom tinto.   

03/02/10

Precisamos de Dinheiro!

Estamos a progredir. Temos uma colectividade melhor equipada, algumas infra-estruturas concedidas pela autarquia e até já podemos fazer tranquilamente chamadas de televóveis em qualquer lugar.
Contudo, ainda falta muito para que possamos estar com todas as nossas necessidades satisfeitas.
Recordo-me, à cabeça, de uma que considero fundamental: a possibilidade de podermos fazer pagamentos, transferências e levantar dinheiro. Precisamos de um multibanco.
É verdade que a crise é grande e o dinheiro é pouco, mas também é verdade que para levantarmos o pouco que temos somos obrigados a ir ao Redondo ou a qualquer outro local das redondezas que o disponibilize.
Não seria de bom senso, por parte de algumas entidades competentes, pôr uma caixa multibanco ao serviço da população do Freixo?
Apesar de não conhecer o procedimento necessário, acho que seria muito útil a todos. Pensemos nisso

12/01/10

Aceitam-se sugestões!


Todos sabemos que o Fraxinus não se trata de um blog que tem como fim criticar os outros e os órgãos administrativos do nosso concelho. Ainda assim, não deixa de ser um transmissor das nossas angústias, dúvidas ou necessidades. Por isso, o que se pretende aqui propor é que façam desabafos, digam o que vos vai na alma e reflitam as vossas necessidades em comentários. Naturalmente, sabe-se que elas não vão ter um impacto directo em quem as compete satisfazer, contudo, entendo que através do nosso blog podemos chegar longe, ainda que por meios indirectos.
O que pretendo com esta mensagem é que lancem temas para discução sobre diversas situações que afectam o quotidiano de todos, de forma a que elas sejam resolvidas.
Não sejam tímidos.
Cumprimentos,

Fraxinus Excelsior

09/01/10

A Tradição Continua


À semelhança do que aconteceu o ano passado, a Casa do Povo de Freixo voltou a organizar um grupo para cantar os Reis. A noite foi, como sempre, formidável e todos foram muito bem recebidos pela simpatia do povo da localidade, que sempre lhes deu esmola e alguma pinga de aguardente para aquecer o espirito na noite fria que se sentia.
Começou-se pela Vidigueira, depois Fazendinha, Gaios, e, finalmente, o Freixo, com a terminação habitual na casa do João das Mantas a tomar o seu precioso nectar espirituoso.
Vamos contar quee esta tradição tão importante não termine e que seja continuada, especialmente pelos mais novinhos, que até já vão participando no cante.
Seja como for, deixem-me realçar que é importante, também que as pessoas continuem a ter uma recepção tão positiva, embora muitas por desfazamento do tempo, se encontrem já deslocadas deste espírito e, portanto, não tiveram uma receptividade muito simpática.
Mas, enfim, há que estar preparado para que a resposta à pergunta: Oh patrão, pode-se cantar os Reis ou não?, nem sempre seja afirmativa, pois já assim o era noutra altura!