Caros freixenses e amigos,
Creio que ao avizinhar-se mais uma Páscoa, o momento apoteótico da fé cristã, é bom termos presentes algumas ideias, que no fundo estão enraizadas sob modelos tradicionais no povo freixense mas que hoje-em- dia estão a entrar em dezuso e, portanto, parece-me ser a forma e o momento oportunos de as lembrar.
Na verdade ainda não estamos no tempo designado pela Igreja como Tempo Pascal, pois como todos sabem estamos na Quaresma, aquele período que antecede a Páscoa em quarenta dias, e que teve início na Quarta-Feira de Cinzas, comummente lembrada com o comer de fradinhos de azeite e vinagre. De facto por muito estranho que pareça a alguns, o significado desta refeição é dotado de grande simbolismo religioso. Os fradinhos são uma refeição pobre, com ausência de carne e que simboliza o fim do Entrudo - tempo de festa - e o início da Quaresma, um tempo de recolhimento sem divertimentos, um tempo essencialmente de meditação e renúncia aos bens materiais.
Com isto quero lembrar um pouco o cariz etnográfico deste período. De facto, se perguntarmos aos mais antigos, eles dirão que no seu tempo não eram permitidos bailes até à Páscoa, com excepção do Baile da Pinha, que era excepcionalmente realizado quinze dias antes da Páscoa. Outra das características do tempo quaresmal e seguida à risca por eles era o jejum de carne às quartas e às sextas. Havia uma forma de redenção diferente, embora não tivesse generalizada, em parte por razões económicas, que era de pagar a bula. A bula era uma espécie de imposto cobrado pela Igreja, dando uma autorização confirmada por um eclesiástico, que confirmava o direito do seu pagador ao consumo de carne. A realidade é que, não recorrendo geralmente a este meio, a maioria das pessoas "optava" pelo jejum de carne às quartas e sextas em memória da paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em suma, só se voltava a comer carne "à séria" na segunda feira de Páscoa com o célebre borrego anteriormente degolado, na Sexta-Feira Santa.
Hoje os tempos mudaram e consigo também os hábitos. A Igreja já só impõe o jejum a quem o possa fazer, estando os doentes e os que praticam trabalhos de grande esforço físico isentos da norma. Com esta mensagem não pretendo incitar à prática do jejum (não obstante os benifícios que traz à saúde, já provados cieníficamente), mas antes fazer uma memória muitíssimo breve de uma das tradições mais marcadas do mundo católico e, no caso particular, da nossa terra.
Saudações e bom jejum!
meu caro
ResponderEliminarcom ou sem jejum, quero desejar-lhe uma Santa Pascoa, assim como a todos os que consultem o blog.